O Governo do Rio Grande do Norte analisa apertar ainda mais as medidas restritivas para conter o aumento de casos e mortes em decorrência da covid-19. A situação permanece crítica, com ocupação dos leitos críticos para a doença em 96% em todo o Estado e houve uma piora da situação da pandemia em 59 cidades potiguares. Nessa sexta- feira (12), o secretário de Estado da Saúde Pública, Cipriano Maia, e pesquisadores do Comitê Científico Estadual apresentaram uma análise dos dados sobre o atual momento da pandemia e apontaram o isolamento como a principal forma de fazer a curva de casos e mortes cair.
“Nós temos um decreto vigente até dia 17 e já estamos em discussão da renovação desse decreto que poderá ter medidas mais restritivas como as que foram recomendadas aos municípios", declarou Cipriano Maia. Sem melhora no quadro da pandemia, ele disse que teria que limitar ao funcionamento das atividades essenciais para que a população fique mais tempo em casa e evite aglomerações.
Como o número de casos continua crescente e o pico de internação geralmente ocorre numa média de 15 dias após o contágio, a preocupação é de que nas próximas semanas a situação se agrave e exija uma nova paralisação das atividades. “Precisamos entender a gravidade do momento. Que as pessoas só devem sair de casa para atividades essenciais, usarem máscara corretamente, manterem distanciamento, evitando contato aproximado, para evitar o contágio. Isso é o que faz a curva da pandemia cair", enfatizou.
O chamado lockdown ainda não é a opção que o Governo pretende adotar, nem a sugerida pelo Comitê Científico. O professor Ricardo Valentim, coordenador do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN) e membro do Comitê, explicou que antes de determinar essa medida extrema, é possível adotar outras mitigadoras.
“Para pode decretar bloqueio total, precisa das condições sociais estabelecidas, além de observar a autonomia e competência de cada ente. Nem a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda lockdown como medida primária, mas, sim, um conjunto de ações restritivas antes disso. As recomendações do Comitê estão refletidas em grande parte do decreto já em vigor", apontou Valentim. Até essa sexta-feira (12), o RN contabilizou 179.824 casos confirmados 3.857 mortes pela covid. A ocupação dos leitos nas unidades de saúde estava em 96% com 105 pessoas na fila de espera por um leito às 20h02 dessa sexta-feira, conforme a Plataforma Regula RN. “Se a sociedade se aglomerar, como ocorreu no carnaval, o cenário futuro será ainda pior, como vimos em Manaus. Por isso que seguir medidas restritivas nesse momento é fundamental", alertou Ricardo Valentim.
Situação piora em 59 municípios
No Rio Grande do Norte, 59 municípios tiveram uma piora no quadro da pandemia e, até janeiro passado, quase 230 mil pessoas no Estado tiveram covid, mesmo sem saber. Isso representa 6,5% da população potiguar. As informações foram obtidas pelo Indicador Composto e pelo Inquérito Sorológico, recursos usados para traçar um mapeamento mais aprofundado da situação e auxiliar nas medidas de enfrentamento.
“Se extrapolar esse dado, de que 6,5% da população apresentou anticorpos, para todas as áreas, tem milhares de pessoas que nem sabem que têm o vírus e que estão transmitindo para outras pessoas", disse o professor Ângelo Roncalli, epidemiologista que integra o Comitê Científico. O Inquérito Sorológico tem como finalidade mapear o comportamento da covid em todas as regiões potiguares.
A Sesap, em parceria com o Instituto Amostragem do Piauí, realizou 24 mil entrevistas e exames (testes covid) em três etapas, de 8 a 24 de Janeiro, sendo 2.300 domicílios, aproximadamente, em cada etapa. O Inquérito contou com o apoio do Comitê Científico e do LAIS e foram analisados oito municípios com sede nas regionais de Saúde do Estado: Pau dos Ferros, Mossoró, Assu, Natal, João Câmara, São José de Mipibu, Santa Cruz e Caicó. As maiores prevalências foram em Caicó (12,3%), e Pau-dos-ferros (12,7%), e a menor em São José de Mipibu (5,3%). Também é maior a prevalência nos que relataram contatos tanto com pessoas suspeitas, quanto com pacientes confirmados com a doença e entre os que não adotaram o isolamento social.
Já o Indicador Composto, apresentado pelos especialistas, reúne nove variáveis e um escore com pontuação que vai de 1 a 5, onde 1 é a melhor situação e 5 a pior. O indicador apontou que mais de 75% da população do Estado vive em municípios com pontuação entre 3 e 5, ou seja, em áreas que variam entre preocupantes, graves e críticas.
Tribuna do Norte
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