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Em autobiografia, papa Francisco defende bênção a casais gays

Posicionamento reforça a manifestação feita pelo pontífice diversas vezes ao longo dos últimos meses



Não é novidade para ninguém que o papa Francisco é favorável à concessão de bênçãos a casais homossexuais, visto que o pontífice já se manifestou nesse sentido em algumas entrevistas ao longo dos últimos meses. Esse posicionamento, no entanto, estará também em uma nova plataforma: a autobiografia do líder da Igreja Católica, que chegará ao Brasil em abril.


Na obra, intitulada Vida, Minha História Através da História, o papa fala, entre outros temas, sobre a liberação da bênção aos “casais em situação irregular”, ou do mesmo sexo, e defende a matéria ao dizer que “Deus ama a todos”. Para ele, uma oposição a essas bênçãos não significa um “cisma” na Igreja Católica.


– Sobre as bênçãos aos casais irregulares: quero apenas dizer que Deus ama a todos, especialmente aos pecadores. E se os irmãos bispos decidirem não seguir este caminho [de dar a bênção], não significa que esta seja a antecâmara de um cisma, porque a doutrina da Igreja não é posta em causa – diz o pontífice em um trecho da obra, reproduzido pelo jornal italiano Corriere della Sera.


MANIFESTAÇÕES FAVORÁVEIS ANTERIORES


O posicionamento presente na autobiografia do pontífice reforça uma manifestação que ele já havia emitido algumas vezes ao longo dos últimos meses. Em janeiro, durante uma entrevista concedida ao programa italiano Che Tempo Che Fa, o pontífice disse que a decisão foi mal compreendida.


– O perigo é que, se eu não gosto de algo e coloco isso [a oposição] em meu coração, eu me torno uma resistência e tiro conclusões feias. Foi o que aconteceu com essas últimas decisões sobre bênçãos para todos – declarou.


Também em janeiro, Francisco declarou, em entrevista ao jornal italiano La Stampa, que aqueles que protestaram contra a medida pertenciam a “pequenos grupos ideológicos”, com exceção da África, onde esse assunto faria parte da base cultural da população.


– Para eles [os africanos], a homossexualidade é algo ruim culturalmente, não a toleram. Mas, em geral, espero que gradualmente todos se acalmem diante do espírito da declaração Fiducia supplicans do Dicastério para a Doutrina da Fé: quer incluir, não dividir. Convida-nos a acolher e depois confiar nas pessoas e confiar em Deus – comentou.


Já em fevereiro, em entrevista à revista católica Credere, o papa foi ainda mais enfático na defesa da bênção aos casais homossexuais e chamou de “hipocrisia” as manifestações contrárias à medida.


– Ninguém fica escandalizado se eu der a minha bênção a um empresário que talvez explore as pessoas e isso é um pecado gravíssimo. Enquanto eles ficam escandalizados se eu der a minha bênção a um homossexual… Isso é hipocrisia – disse.


SOBRE A BÊNÇÃO


O Vaticano aceitou a “possibilidade de abençoar” casais “em situação irregular”, ou do mesmo sexo, sem equipará-los ao casamento, em um documento publicado no dia 18 de dezembro do ano passado pelo Dicastério para a Doutrina da Fé.


No texto, o prefeito dessa congregação, o cardeal argentino Víctor Manuel Fernández, declarou que “pode-se compreender a possibilidade de abençoar casais em situação irregular e casais do mesmo sexo, sem validar oficialmente o seu status ou alterar de alguma forma o ensinamento perene da Igreja sobre o matrimônio”.


Essa possibilidade, que seguiu a vontade do papa Francisco, representou uma mudança de posição em relação àquela que o Dicastério publicou em março de 2021, então liderado pelo espanhol Luis Ladaria Ferrer, e que dizia que a Igreja Católica não poderia transmitir sua bênção às uniões de pessoas do mesmo sexo.


A declaração atual recebeu o nome Fiducia supplicans: sobre o sentido pastoral das bênçãos e foi a primeira que a Doutrina da Fé, antigo Santo Ofício, publicou nos últimos 23 anos, desde a Dominus Jesus (2000). Trata-se, em primeiro lugar, de um longo texto no qual se analisa a origem e o significado teológico do ato de abençoar, revendo-o a partir do Antigo Testamento e das Escrituras.


– Em seu mistério de amor, por meio de Cristo, Deus comunica à sua Igreja o poder de abençoar. Concedida por Deus ao ser humano e concedida por este ao próximo, a bênção se transforma em inclusão, solidariedade e pacificação. É uma mensagem positiva de conforto, atenção e incentivo – diz o texto.


No entanto, apesar da abertura da bênção a esses casais, o Vaticano rejeita como “inadmissível” qualquer “rito ou oração que possa criar confusão entre o que é constitutivo do casamento”, como os realizados pelo clero alemão, que oferece “atos de bênção”, apesar do desacordo da Santa Sé.


– Não se deve promover nem prever um ritual de bênção de casais em situação irregular, mas também não se deve impedir ou proibir a proximidade da Igreja em todas as situações em que a ajuda de Deus é solicitada através de uma simples bênção – sentencia a Doutrina da Fé na sua declaração.


A bênção dos casais homossexuais ou “irregulares”, isto é, daqueles que não são casados ​​canonicamente pela Igreja, pode ser precedida de uma “breve oração” na qual o sacerdote pode pedir para os abençoados “paz, saúde, espírito de paciência , diálogo e ajuda mútua”.


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